segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alta Neblina

Andando pelo corredor do hospital, ía de um lado para o outro, sentindo uma mistura de coisas, não tendo uma definição exata, mas era uma junção de ansiedade com preocupação, angústia e medo. Uma e meia da madrugada, fora do hospital uma alta neblina, que cobria o céu inteiro. O médico chega.
- Como ela está?
- Então... Ricardo? 17 anos, isso?
Respondi desesperadamente:
- Sim, doutor!
- Sua mãe está em estado grave e...
De repente todos correm, gritos, pânico e uma tremenda correria, todos estavam indo em direção ao quarto da minha mãe. O doutor correu para ver o que era. Eu também queria ver.
- Você não pode entrar!
- Mas é a minha mãe!!!
Quando me dei conta várias pessoas me seguravam e me puxavam.
- Eu quero entrar! Eu quero entrar... O que é isso? Não aplique isto em mim! Não!
Me senti tonto, cada vez mais fraco, perdendo as forças... Foi quando desmaiei.
Pouco tempo depois fui abrindo os olhos, vendo tudo embaçado... duplo!
Levantei, ainda um pouco sedado... Fui em direção ao médico. Olhei para ele, o seu olhar me disse tudo. Mas tinha que confirmar... Foi quando ele me deu a notícia.
Senti que morreria, como se alguma coisa me prendesse a ela, como se os nossos corações fossem um só. E indo uma parte, para mim poderia levá-lo inteiro.
Não tive reação alguma. Sentei, olhando para o nada. Com a mão segurando a cabeça, senti que tudo ía embora. A vontade de tê-la de volta, me confortar em seu colo, sentir  o abraço dela, ter seus conselhos, pelo menos poder dizer ''Eu te amo'' mais uma vez.
Uma semana depois, passei a morar com meu pai Tom, numa pequena cidade do interior de São Paulo, um cara tranquilo: não era casado e não era do tipo ''o pegador'', eu o visitava quase todas as minhas férias.
Eu estava muito mal, era como se eu tivesse uma prova de múltipla escolha, com várias opções, mas a morte para mim naquele momento, era a que eu devia assinalar...
Vivendo trancado no quarto, meu pai tentava de tudo para me animar, mas não  obtinha sucesso...
- Olha o que eu trouxe para você!!! Sua sobremesa favorita!
Tentando disfarçar minha solidão, fingi que estava contente, não queria  preocupá-lo tanto.
Várias tentativas frustrantes de tentar ter uma conversa comigo, mesmo assim ele não desistia e continuava tentando.
- Pai, não tô a fim de falar... Me desculpe é que...
- Não! Não se explique, sei que você está mal pela morte de sua mãe e... Vou te deixar sozinho.
- Obrigado, pai.
Passou-se um mês. Fui me acalmando, tentando esquecer, mas nunca, nunca eu iria me esquecer de tudo.
Fui cobrindo a tristeza com recordações felizes que com ela tinha. Fui pensando e acreditando que cada vez mais eu teria que levar meu mundo para frente, talvez uma faculdade, um esporte, um novo amor, e saber que ela fez tudo de bom para mim e para todos e o seu destino estava cumprido.
Comecei pela faculdade. Me matriculei numa faculdade de Educação Física. Eu fiquei muito contente com isso.
Meu primeiro dia começaria hoje... Estava ansioso, senti que a minha vida iria mudar.
Entrando na sala, o professor disse onde eu iria ficar, Minhas pernas estavam bambas,  o coração disparado...
Me sentei e veio finalmente a tranquilidade...
Dois meses...
Com uma vida social se reconstruindo, fui me recompondo, minhas ideias aos poucos iam se organizando.
Mas as coisas nem sempre saem como queremos...
Saindo da faculdade, quase beirando meia noite, pego um metrô... Minha cabeça está na minha mãe, recordando. Vem uma lágrima... Logo duas, três e assim prosseguindo.
Chega no ponto, as portas se abrem, uma grande neblina lá fora. Eu mal conseguia enxergar. Coloco um pé para fora e, quando coloco o outro, um homem alto, de grande porte, com o rosto encapuzado e com uma arma, vem em minha direção...
Ele me pede para o passar tudo o que eu tinha... E eu... revidei!
Acertei-o com um soco. Ele se virou para mim. Eu olhei em seus olhos. Ele apontou a arma...
Na hora toda minha vida passou em minha mente, como flashes...
A arma dispara, eu engulo a seco... e...
A bala passa de raspão. Ele então, dispara de novo, desta vez, no lado direito do peito.
Eu estava naquele chão frio e sujo, deitado, mal conseguia falar, nem sequer respirar.
Não satisfeito atirou novamente. Desta vez, na cabeça.

A ausência da pessoa mais importante do mundo me fez ver que a vida é como uma ampulheta, que quando nascemos a areia começa a escorrer, e que um dia ela acaba, como uma anestesia eterna, levando consigo tudo que existia em nós e deixando tudo que tínhamos, tudo que demos tanto valor. Minha mãe... É ela minha última lembrança.
Com ela vivi...e com ela estarei.

Danyel Santos (9oA)

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