Millôr Fernandes |
Morreu hoje o escritor Millor Fernandes, 88 anos, em sua residência no Rio de Janeiro por volta das 21h00.
Millor foi um grande escritor. Aliás, escritor, cartunista e tradutor. Nasceu pobre em 1923 e as 14 anos já trabalhava como contínuo em um jornal. Viria a tornar-se jornalista anos depois, segundo ele mesmo, "tendo de fazer o que nunca aprendera a fazer. Tive sorte, nunca pensei no que queria ser quando fosse adulto."
E como tinha talento o nosso escritor. Dono de um estilo ferino e irônico, utilizava a sátira como ferramenta principal em suas obras. Foi um dos fundadores do jornal O Pasquim em junho de 1969, famoso pela resistência a ditadura militar... Sempre exercida com muita comedia, logicamente...
E os cartuns! Ah, os cartuns!
E os livros? 100 fábulas fabulosas, Um elefante no caos, Flávia: cabeça, tronco e membros... são tantos e todos formidáveis, mas o melhor de todos, o Millor definitivo (nome do livro!), esse é mesmo definitivo!
Abaixo, leia algumas frases extraídas do exemplar.
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Divulgação |
Nesta luxuosa 15ª edição estão reunidas 5.299 frases de Millôr |
- Aceita esse cargo, sim. Nada tendes a perder senão a vossa covardia. Nunca ninguém perdeu dinheiro investindo na desonestidade.
- Só louco rasga dinheiro? Bobagem. Nem louco rasga dinheiro. Experimente jogar uma nota de cinqüenta (ou mesmo de um!) num pátio de insanos. Vai ter briga pra pegar.
- Como posso ser compreendido por milhões de medíocres que continuam a acreditar em caderneta de poupança?
- Na nota do freguês nunca esquecer de somar também o dia e o ano. Se o freguês reclamar a gente dá outra nota e põe a diferença como desconto para clientes especiais. Os bancos fazem isso o tempo todo.
- Pra quem gosta de puxar, qualquer saco serve. Acaba sempre puxando o saco certo. O de dinheiro.
- Quando o paciente emocionado, diante do médico que lhe salvou a vida, declarou que "não tinha como lhe pagar", o médico sábio esclareceu: "Meu filho, desde que os fenícios criaram o sistema fiduciário essa questão está plenamente resolvida".
- O ser humano só aprendeu a contar depois que o dinheiro apareceu na face da Terra. O homem aprendeu a contar pra poder contar dinheiro. Lucro ilícito é precaução mínima que você tem que tomar pra não ter prejuízo.
- O lucro, disse o banqueiro, é minha pátria (justificando ter se naturalizado paraguaio).
- Quanto é muito? Quanto é demais? Eu, por exemplo, que moro no Rio à beira-mar, tenho carro (1998, é verdade) e como nos melhores restaurantes, me considero um homem pobre.
- A terra continua azul (vista lá de cima).
E os haicais? Lembra deles?
[POEMEU EFEMÉRICO]
"Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril"
"Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha."
"Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos"
"na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua"
"probleminhas terrenos:
quem vive mais
morre menos?"
E, por fim, pra fechar o assunto cheios de saudades...
"é meu conforto:
da vida só me tiram
morto"
Você vai fazer falta, Millôr!
Mais sobre a morte de Millor
Revista Carta Capital: Morre Millôr
Folha Ilustrada: Lembranças de Millôr
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