Meus olhos admiravam a grandiosa estrutura da creche que viria
ser meu segundo lar por seis anos. Eu aperava a mão de minha mãe com certo
receio, mas logo que vi outras crianças correndo pelo pátio a insegurança
passou. No primeiro dia, uma mulher de cabelo curto perguntou meu nome, ela foi
minha primeira professora, ou tia, como a chamava. Lembro-me muito bem dela: tinha
por nome Lourdes. A tia Lourdes me ensinou a contar até 100, a escrever meu
nome e as formas geométricas. Ela oferecia seu colo quando eu entrava na creche
zonza de sono. A outra tia foi mais rígida, não lembro mais o nome, mas recordo
que ela me ensinou a ser ágil, escrever de tudo e somar. Algumas coisas eu já
havia aprendido com minha mãe, por isso
me colocaram em outra série.
Logo depois, veio a primeira série. Estudávamos numa escola de manhã e fazíamos
ensino complementar à tarde. A escola fica no centro da cidade. Minha
professora se chamava Nélvia. Ela era alta e tinha cabelos negros, eu a
comparava com a branca de neve. Depois dela surgiu a professora Maria das
Graças, uma gorda que gostava de passar cruzadinhas. Na terceira série, conhecemos
a tia Yolanda, que aplicava prova toda semana. Apesar de rígida, a maioria dos
alunos gostava dela. Na quarta série, tia
Cláudia, que mais parecia uma animadora de festa infantil, tinha mais ou menos
um metro e meio de altura, era loira e tinha olhos negros. Tia Cláudia separava
as sextas para brincadeiras e aula de música. Lembro-me até hoje de todas as
músicas. Depois da quarta série, tivemos que ir para outra escola, no meu caso,
para o João Conceição.
Não lembro exatamente de todos os professores, mas alguns
merecem aparecer aqui. Como por exemplo, o professor de história, Luiz Carlos, que
enfeitava nossos cadernos com lápis de cor. O professor Paulo, que com toda
paciência do mundo nos explicava, caso precisasse, sobre frações pela milésima
vez, até entendermos. Rosana, a professora de EDUCAÇÃO Física, fazia com que
jamais proferíssemos a palavra “Aula de Física” na aula dela (nota: agora sei o
porquê). Houve também o professor Marino, que fazia gincana matemática: meninas
x meninos, alguns o comparavam com o Wolverine, por causa da barba. E por falar em gincana, teve a professora
Angélica, que promovia bingo ortográfico e premiava os vencedores com um
bombom, ela me chamava de “minha poetiza”, Angélica fez-me uma apaixonada por
Edgar Allan Pöe e Clarisse Lispector. Professora Carmen me deixou fascinada por
Van Gogh, Monet, e Michelangelo. Professora Vera sempre idealizou uma festa de
Halloween na escola, ela me ajudou a aprender inglês ouvindo músicas. E a
professora Sônia ensinou geometria fantasticamente, eu tinha um medo terrível
de errar um plano cartesiano.
Daí veio uma fase turbulenta: a sétima série. Uma tarde, eu
entrei chorando na classe após o intervalo, a professora de ciências, Maria
José, aproximou-se de mim e perguntou o que havia acontecido. E eu, explodindo
por dentro, sussurrei “sabe quando você é esquecida por alguém?”, ela curvou a
cabeça e eu desabei nos ombros dela, ficamos paradas por alguns segundos, segundos
esses que bastaram para me confortar.
Depois disso, nas aulas da manhã, apareceu a professora Rosane,
que fez com que eu desejasse ser igual a ela, foi com base nas aulas dela que tive
o desejo de lecionar, Rosane foi e é um dos meus pontos de referência. Professora Juliana, com os olhos mais expressivos
que já vi, ensinava sobre história juntamente com grandes reflexões sobre a
vida. Professora Silvana fez com que
Pitágoras e Bhaskara grudassem na minha cabeça e não saíssem nunca mais. E a professora Cora, sempre me engajava (faz
até hoje) em projetos da escola.
O ensino médio veio e, junto com ele, matérias novas apareceram:
Física, química, biologia, filosofia e sociologia. O professor de Física, Renato, me deixou com certo
medo da matéria, mas logo me acostumei com ele e penso que ele é um dos
melhores professores de Física que existe, sempre usando materiais simples para
explicar coisas complexas. Na matéria
química, só me aproximei mais esse ano, o professor Júnior conseguiu — milagre!
— me deixar entusiasmada com a matéria, com todo carisma que ele consegue ter
naturalmente. Em filosofia, professor
David fazia, digo, faz discussões com a classe até chegarmos a uma
conclusão. A professora Fátima, de
sociologia nos ensinou tudo e mais um pouco sobre ética e moral, desigualdades
sociais e cultura. Teve uma professora de português, Maria Rosa, que nos
contava histórias de seus livros favoritos, ela interpretou um trecho do “Alto
da Barca do Inferno” que me deu até medo.
Chegamos enfim à
terceira série do ensino médio, o professor Malcílio nos alerta em todas as
aulas sobre vestibular e as pegadinhas matemáticas que há neles. A
recém-chegada Natália, de sociologia, apresentou vários projetos sociais, me
deu vontade de virar ativista. Com as aulas do professor Maurício, os assuntos globalização,
estereótipo e guerra fria jamais sairão da minha cuca. As aulas da Ana Maria
fizeram com que eu tivesse medo de não ser boa o suficiente, mas com o tempo me
acostumei e passei a adorá-las.
Estes citados são, além de professores, amigos que quero
levar comigo para o resto da vida. São profissionais aplicados, amigos leais e
anjos disfarçados. Serei grata eternamente a todos e, quem sabe algum dia, a
gente possa se encontrar como colegas de trabalho.
Feliz dia do amigo, conselheiro, anjo... Enfim, feliz dia
dos professores.
Ana Eduarda, 3ª A